O Contrato - Parte I

22-10-2020

"...porque uma ho não se apaixona: assina contratos!"

Era uma linda manhã na Cidade das Acácias. Com enorme brandura, o sol beijava a pele de quem se punha à rua. O vaivém dos munícipes da cidade de Maputo era harmonioso, mas isto só naquele dia. Era uma segunda-feira calma, mas tão calma que muitos tomaram a liberdade de falar ao celular enquanto caminhavam para os seus destinos. Era mesmo pouca gente. Mas uma destas poucas pessoas era Amélia.

- Mas que menina linda! Ernesto, estás a ver o mesmo que eu? - Perguntou um dos pedestres todo incrédulo, mirando a figura de Amélia.

A rapariga era portadora de uma beleza estonteante; era "bonita de matar", como muitos diziam. Era uma mulher de carne tenra, pele macia, suave e brilhante; era jovem. A cor de caramelo da sua pele, ia de encontro com o castanho-escuro dos seus olhos, qual casamento perfeito. Era alta e magra. Tudo se lhe assentava bem: os seus generosos seios, e as suas curvas perfeitamente crivadas, quais arcos feitos sob medida. Com que compasso? isso é o que muitos gostariam de poder descobrir.

- Bom dia, Amélia. Pensei que hoje me fosses faltar ao trabalho. - Afirmou ironicamente o seu chefe.

- Bom dia, Boss. Melhor do que ninguém o Boss sabe que esse é um luxo que eu não me posso dar. Aliás, tenho um chefe que não é nada preguiçoso para descontar o salário. - Respondeu-lhe com um belo sorriso no rosto.

- Olha como tu és gira, o teu sorriso é como... - Enquanto proferia aquelas palavras de mel para a bela jovem, eis que se viu obrigado a interromper a sua cantada pois a sua mulher se fez presente ao local.

- Bom dia, Amélia. Então, como estão as coisas a correr por cá? Parece-me que hoje não teremos muitos clientes ao almoço. - Afirmou a dona Ângela, esposa e também proprietária daquele restaurante apelidado "O Cantinho do Jaime".

- Sim, dona Ângela. Parece-me que hoje está tudo calmo, e não recebi até agora nenhuma encomenda ou reserva para o almoço. - Respondeu a jovem, tendo o seu olhar paralisado sobre o seu relógio de pulso.

- Ah, deixes lá estar. Se calhar até abrimos uma excepção por hoje e saímos mais cedo.

- Sair cedo? Tu podes ir, Ângela. Eu e a Amélia ficaremos até o último minuto do horário de trabalho. - Afirmou o senhor Jaime num tom de muita seriedade.

As duas mulheres olharam de relance uma para a outra. Já conheciam o senhor Jaime. Era do tipo que quando afirmava algo ou dava alguma ordem não queria por nada ser contrariado. Tocaram as duas a procurar ocupação naquele dia calmo; sacudir o pó das prateleiras, fazer o inventário do que estava em falta, e todas aquelas outras coisas cansativas que se podem fazer quando não está a clientela. Quando se está ocupado, o tempo passa rápido. E aquelas duas mulheres puderam mais uma vez sentir isso na pele. Quando olharam para o relógio, já era hora de saída: 21 horas. Arrumaram as cadeiras e as mesas, mudaram a vestimenta, trancaram as portas e puseram-se no caminho para casa. Amélia, como sempre, ia de chapa (transporte público), ao passo que os seus patrões do seu Range Rover. Do seu trabalho para a paragem era uma pequena caminhada. O brilho da lua iluminava aquela rua e convidava a belíssima jovem a sonhar acordada. A primeira coisa que lhe ia a cabeça quando o assunto era este, era sem dúvidas melhorar a sua condição financeira para poder mudar a sua vida e a dos seus familiares. A sua irmã sofria de uma doença crônica e os cuidados sugavam a maior parte dos rendimentos da família. Mas mesmo no meio daquele sofrimento, Amélia não perdia a esperança de um futuro melhor.

- Ai, mal posso esperar para o dia em que vou comprar uma casa para a minha mãe e um... - De súbito, foi interrompida por dois jovens que se encontravam armados e mascarados.

- Não grites porque somos capazes de tirar a tua vida sem nem pensar duas vezes. - Advertiu-lhe um dos malfeitores com a arma encostada no seu peito.

De repente, uma viatura de marca Toyota Altezza fez-se próxima e os malfeitores meteram-na no banco de trás de maneira violenta.

- Ai de ti se emitires um só som. Vista esta venda imediatamente. - Afirmou com um tom ameaçador um dos malfeitores. Com lágrimas nos olhos, Amélia cumpriu com todas aquelas diretrizes. Apesar do pânico ser imenso, a jovem pôs-se a formular hipóteses para justificar aquele acontecimento e infelizmente não conseguiu encontrar nenhuma.

- Estou, Chefe! Estámos cá fora com a encomenda. - Comunicou o condutor com os seus olhos crivados no espelho retrovisor, atento a quietude da rapariga. - Está bem, Patrão. Estamos já a trazer a encomenda ao seu encontro. Mais uma vez, com a arma apontada ao peito, arrastaram a jovem para o interior daquela residência que se situava numa zona recôndita da província de Maputo.

- Coloquem-na sentada de frente para mim e tirem a venda. - Ordenou o mandante.

Ao ouvir o som daquela voz, o coração de Amélia pôs-se a palpitar tanto que quase lhe saía pela boca. Reconhecia-a, mas não se queria precipitar nas conclusões. Esperou que se lhe fosse tirada a venda.

- Meu Deus, Tozé! És mesmo tu! - Pôs-se em prantos e começou a jorrar rios de lágrimas.

- Sou eu, sim, minha querida. E vim para te impor, aliás, propor um acordo. - Disse-lhe Tozé com um sorriso malicioso estampado no rosto.

- Acordo? Que acordo? Eu quase fui morta por me envolver nos teus esquemas. - Respondeu-lhe Amélia aos gritos e já trêmula.

- Não te prendas ao passado. O serviço que eu quero que tu faças é simples para uma mulher atraente e com muita experiência em sedução como tu. Os mandantes são pessoas poderosas, que te vão pagar um bom dinheiro, uma daquelas quantias que te vai mudar a vida. - Disse-lhe Tozé, passando a mão pelo seu ombro esquerdo.

- E se eu não aceitar, o que me acontece? Vais tirar a minha vida? - Inqueriu a jovem, fitando-o com toda a seriedade do mundo

- Não, não. Matar-te para quê? Sabes, estou a cada dia mais experiente, por isso optaria por matar a tua família e a tua frente. O que me dizes? Estou mais perspicaz, não?. - Respondeu-lhe Tozé com aquele sorriso malicioso e com os olhos mais que crivados nos de Amélia.

- Seu porco. Tu não toques na minha família. - Afirmou Amélia com toda raiva do mundo.

- Vou tomar isso como um sim. Muito bem, a tarefa é muito simples, young lady: vais seduzir um dos maiores empresários franceses e vais fazer o levantamento de algumas informações confidenciais. - Disse-lhe num tom mais descontraído, já acendendo o cigarro.

- Um Francês? Eu lá sei falar o francês. Isto tudo é uma loucura. Deixa-me ir para casa e seguir com a minha vida. Não me procures mais. Esse foi o nosso combinado. - Disse-lhe aos prantos.

- Eu sei, Amélia. Mas para esta missão, preciso de alguém com o teu perfil. Quanto ao francês, não te preocupes. Vou agora te colocar para dormir e vais acordar num jato privado com destino à Paris. Lá terás uma formação para poderes aprender melhor a língua e tantos outros detalhes que a nossa organização julga serem importantes para fazeres muito bem a tua parte. Agora, bonne nuit, mademoiselle! Dors bien. - Proferiu estas palavras, injetando-lhe um conteúdo que estava numa seringa que lhe havia sido entregue por um dos seus capangas.

To be continued... 


Por: Cláudia Beth



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